IMPRESSIONISMOS I – Lerner e o Banco Mundial
Mais
uma vez mudava de rumo. A década dos 60 encerrada, como seriam os anos 70?
Aproveitei uma chance e saí de Syracuse para vasculhar oportunidades no calor
de agosto em Washington. Não lembro se conhecia alguém, mas o certo é que, na
hora do almoço, fiquei vagueando pelos corredores do Banco Mundial para sentir
o ambiente. De repente, vi a palavra
CURITIBA. Porta aberta, lá fui eu. As paredes da sala estavam cobertas por
projeto para ônibus diferenciado que andava em pista exclusiva, com ruas em
paralelo para carros e urbanização com densidade decrescentes. Conceitos,
propostas e detalhes maravilhosamente bem apresentados. E estava a linda Inês posta em sossego quando
entrou o dono da sala. Um especialista em transporte urbano com PhD de
Berkeley, mas sem a competência de muitos amigos meus ... Em sua primeira fala rejeitou
o projeto do IPPUC porque o funcionamento das portas não atendia a não sei o
quê. Este foi meu primeiro contato com o projeto de um tal Jaime Lerner e IPPUC.
Acontece que Reis Velloso
apoiou o projeto experimental de Jaime, os resultados foram positivos e a CNPU,
aonde cheguei em 1974, com a EBTU, investiram em Curitiba. Em 1978 fui para Presidência
da EBTU e, com apoio financeiro do Banco Mundial, implantamos corredores
exclusivos em regiões metropolitanas e aglomerados urbanos por todo o país, mas
sem vincular uso do solo e corredores, como em Curitiba. Com Flecha de Lima nas
Relações Exteriores, os corredores de ônibus tornaram-se produto de exportação
para América Latina e coqueluche mundial.
Com a municipalização
da Constituição-Cidadã no Brasil, em 1988, as empresas de ônibus retomaram o
domínio do transporte urbano e só municípios muito ricos melhoraram seus
sistemas modais. Na América Latina, Bogotá assumiu a liderança na operação de
corredores e quando fui para a Venezuela, no final dos anos 90, a tarefa da
equipe era implantar melhorias e corredores com recursos do BID e BIRD. Depois,
corredores viraram BRTs e PACs financiaram as obras de engenharia, sem incluir
ônibus ou exigir o mais importante: a operação!
No frigir dos ovos, o
PhD do Banco Mundial estava errado, Lerner estava certo e tive sorte quando decidi
retornar ao Brasil e enfrentar o IPM que havia deixado nas costas. Mas isso é
outra estória.... Não podia prever o que iria acontecer!
Jorge
Guilherme Francisconi
Brasília, novembro de
2016